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F&L – Finanças & Leitura: Os Axiomas de Zurique

Caros Leitores,

Quem sou eu para discordar de um livro que possui em seu título uma palavra tão forte quanto “axioma” e é reconhecido por tanto tempo como uma “bíblia” do mercado financeiro?

Ao longo de minha experiência universitária e profissional na WG Finanças, me deparei com fatores que me levaram a “concordar em discordar” com alguns pontos descritos por Max Gunther como axiomas.

Como sempre, falarei de alguns pontos chave sobre o autor e o momento em que o livro foi escrito, para absorvermos um pouco da perspectiva e não correr o risco de sermos anacrônicos.

Max Gunther, nascido em 1926 na Inglaterra, foi um jornalista e escritor, autor de 26 livros, entre eles o queridinho das finanças em questão, “Os Axiomas de Zurique”.  Se mudou para os EUA com 11 anos porque seu pai, funcionário de um banco suíço, foi transferido para ser o gerente da filial de Nova York.

O livro que vamos discutir foi lançado em sua língua original em 1985. Ao longo da década de 1980 os EUA passaram por um momento de instabilidade econômica. Nas eleições de 1980 o candidato democrata Jimmy Carter perdeu a reeleição para Ronald Reagan.

Até o final do governo, Reagan conseguiu reduzir e controlar a inflação, criar empregos e o país cresceu a uma taxa média anual de 7,93%¹. Obviamente, tudo isso ao custo de triplicar a dívida pública (mas a dívida a gente deixa para o próximo presidente, né?). O S&P, índice de renda variável dos Estados Unidos, que seria comparável ao Ibovespa para o caso brasileiro, valorizou-se 143% entre a posse e a saída de Reagan do governo, uma média de aproximadamente 18% ao ano. ²

Os axiomas, ou regras, foram criados num clube de suíços com sede em Zurique que operavam em mercadorias e ações. Essas regras eram utilizadas para se assumirem riscos.

Ou seja, o livro foi escrito em um momento em que a economia estava indo muito bem, por um autor que havia nascido no mercado financeiro. Justifica-se aí o pensamento extremamente agressivo do autor com relação às finanças.

Bom, chega de economia. Vamos aos axiomas. Darei mais atenção a determinados axiomas, pois são muitos e o artigo ficaria extenso demais.

 

Os Axiomas

 

1º Grande Axioma: Do Risco – Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Se você não está preocupado, não está arriscando o bastante.

Max Gunther utiliza o exemplo de duas amigas para personificar o investimento conservador e o investimento arriscado. Apesar de o investimento arriscado amargar algumas perdas, no futuro ele tem uma rentabilidade maior que o investimento conservador (guarde isso na memória).

Ele subdivide esse axioma em dois menores: apostar quantias que valham a pena e resistir à tentação de diversificar.

A ideia de diversificar é reduzir o risco não sistêmico dos seus investimentos, ou seja, o risco em específico de determinada empresa. O risco sistêmico é aquele que afeta todas as empresas da economia, sendo virtualmente impossível de fugir.

2º Grande Axioma: Da Ganância – Realize sempre o lucro cedo demais. Sim, ao mesmo tempo que você deve apostar grandes quantias e não diversificar, você deve realizar o lucro cedo demais.  Parece contraditório, certo?

Ou seja, o livro já se inicia dando sinais de que os axiomas são no mínimo polêmicos. Me aproximo mais do segundo axioma que do primeiro, principalmente quando se trata de bolsa de valores.

É impossível adivinhar o preço máximo da ação. Pode ser que você saia antes do topo, como pode ser que você saia antes de uma queda que derrube o preço da ação. É menos traumático lidar com o primeiro cenário.

Max cita que uma boa estratégia para isso seria o axioma menor, que delimita o ganho desejado em determinado investimento.  Sendo assim, em qualquer cenário, o investidor realiza o lucro mais cedo.

3º Grande Axioma: Da Esperança – Quando o barco começar a afundar não reze. Abandone-o.

Ao mesmo tempo que ressalta os investimentos mais arriscados como melhores que os investimentos conservadores no 1º axioma, o 3º axioma diz que se o negócio vai mal você deve abandoná-lo. Vai entender.

Dessa vez eu me aproximo mais do 1º axioma do que do 3º. Já que você escolheu o investimento arriscado (falarei disso posteriormente), espere o longo prazo. Caso contrário você vai realizar aquele prejuízo e aplicar no investimento conservador, que não tem potencial para recuperar seu prejuízo.

4º Grande Axioma: Das Previsões – Para o autor, previsões e falsos profetas devem ser evitados. Ninguém consegue prever o futuro. As estratégias devem ser feitas pensando no curto prazo e em movimentos de mercado.

5º Grande Axioma: Dos Padrões – Até começar a parecer ordem, o caos não é perigoso.

Segundo o autor, quem diz ter entendido os padrões do mercado é mentiroso e deve ser desacreditado.

6º Grande Axioma: Da Mobilidade – Evite lançar raízes.

Um exemplo utilizado pelo autor é o de um casal que deixa de vender sua casa por uma boa quantia por causa de suas raízes e concluem que deveriam tê-la vendido depois de alguns anos passados.

Se seu objetivo é ganhar dinheiro, prender-se demais pode te fazer ficar mais longe de seu objetivo.

7º Grande Axioma: Da Intuição – Só se pode confiar num palpite que possa ser explicado.

Obviamente, cada um puxa a sardinha para si. Sou adepto da análise fundamentalista, financista e tento basear ao máximo as decisões em motivos racionais. Traduzindo isso para os investimentos, o ideal é estudar a fundo cada papel e investir somente se visualizar algum potencial de ganho.

8º Grande Axioma: Da Religião E Do Ocultismo – É improvável que entre os desígnios de Deus para o Universo se inclua o de fazer você ficar rico.

9º Grande Axioma: Do Otimismo e do Pessimismo – Otimismo é esperar o melhor resultado das atitudes. Para o autor, mais importante que isso é ser confiante para poder lidar com um resultado pior que o desejado. Voltando no axioma 7, assim como não se deve confiar em palpites que não sejam explicados, não tome decisões baseadas somente em otimismo.

O 5º, 6º, 8º e 9º axiomas basicamente resumem alguns comportamentos que são chamados de vieses psicológicos, assunto sobre o qual meu colega Hugo Radd escreve e pode acrescentar bastante sobre o tema. Você pode ler sua primeira coluna, sobre o viés de perdas e ganhos aqui.

Os axiomas parecem inclusive se entrelaçar bastante e, em alguns momentos, passam a impressão de estarem se repetindo.

Previsões, armadilhas, ilusões de correlação e causalidade são exemplos citados durante essa parte do livro que podem impedir o investidor de ter sucesso. Essas ilusões existem comprovadamente e, nesse ponto, concordo totalmente com Max Gunther. Precisamos exorcizar alguns tipos de decisões fundamentadas em motivações erradas.

10º Grande Axioma: Do Consenso – Fuja da opinião da maioria, provavelmente está errada.

O investidor individual possui menor volume e fontes de informação inferiores aos investidores institucionais. O investidor normalmente entra no meio de movimentos que já foram identificados pelos grandes investidores anteriormente, os chamados “peixes pequenos”.

11º  Grande Axioma: Da Teimosia – Se não deu certo da primeira vez, esqueça.

No mundo das especulações, a persistência, pode ser de grande influência negativa. Caso o resultado não seja o esperado, não se mantenha na mesma estratégia, com a mesma empresa, com o mesmo negócio.

Existem várias maneiras de se chegar no mesmo resultado!

Nesse axioma, o autor critica uma estratégia bastante utilizada: o “preço médio”

De acordo com essa técnica, se comprar consistentemente o ativo durante períodos consecutivos, independente de outros fatores, serão atingidos momentos de queda e de alta, conseguindo um preço médio por ela.

Técnica muito parecida com a citada de maneira positiva por ele para evitar que o investidor tenha perdas muito grandes, no 2º Grande Axioma. Independente de outros fatores, o investidor deveria sair do investimento assim que atingisse um determinado nível de ganho.

Em ativos com certa imprevisibilidade, como o dólar por exemplo, essa é uma estratégia interessante e que nós planejadores financeiros utilizamos diariamente com nossos clientes. A forma de pensamento “go big or go home” vai e volta ao longo do livro, e esse é um caso em que ela volta.

12º Grande Axioma: Do Planejamento – Para Max Gunther, planejamento a longo prazo gera perigos e crença de que o futuro está sob controle, portanto não se deve levar a sério o planejamento a longo prazo.

A conclusão que o autor chega: fuja de investimentos a longo prazo.

O que faz o planejador financeiro, senão planejar? Seria inconsistente da minha parte não discordar nesse ponto. O que fazemos para mitigar o problema da imprevisibilidade é sempre trabalhar com o pior cenário. Se tivermos alguma surpresa, será positiva.

 

Conclusão

 

“Os axiomas de Zurique” foi um livro desafiador. Durante todo o tempo fui bombardeado de informações que contradiziam o be-a-bá do investidor. Diversificação, preço médio, longo prazo, todos duramente criticados por Max Gunther.

É impossível descrever um “axioma” sem desconsiderar certas situações e desagradar alguns leitores. Talvez eu seja conservador demais para assimilar certos conceitos ou talvez seja só o fato de o autor ter vivido em economias muito diferentes da brasileira.

Em economia, até mesmo os axiomas são questionáveis!

 

¹http://pt.tradingeconomics.com/

² http://br.investing.com/indices/us-spx-500-historical-data

 

rafael-alves-foto
Rafael Alves é planejador financeiro da WG Finanças Pessoais

 

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